Não sei se devo contar ou se devo guardar esse segredo só para mim ... Minha vontade é contar, mas tenho medo ... Dos ecologistas e dos curiosos, porque os primeiros podem me acusar de fomentar a destruição das árvores e os segundos talvez a destruam mesmo, para colecionarem as suas folhas douradas.
Não sei o que fazer. Sinto-me como Humberto de Campos num conto que intitulou "Chuta Porqueirinha"... É uma estória verídica em que Humberto de Campos se reporta à sua infância, quando ele tinha mais ou menos 7 anos de idade...
Ele fôra convocado para jogar no time infantil oficial da sua cidade, com camisa, meias, chuteira e tudo o mais a que tinha direito ... E como era natural, ficou contentíssimo ... Entrou no campo e começou a correr de um lado para o outro, até que chutaram a bola para ele ... E só então é que ele se deu conta de como a bola era grande ou, talvez, de como ele ainda era pequeno ...
Ele olhou para o gol do time adversário e percebeu que ele estava muito longe e que talvez o seu chute não tivesse força para fazer com que a bola chegasse até lá e, então, pensou em passar a bola para o seu companheiro que estava um pouco mais à sua direita mas, de súbito, pensou também que se ele fizesse isso, o seu companheiro é que chutaria para o gol adversário e, então, ele perderia a oportunidade que estava nos seus pés ...
E ficou nessa indecisão, balançando de um lado para o outro, até que alguém gritou para ele:
- "CHUTA, PORQUEIRINHA!"...
E o grande Humberto de Campos, já velho, disse que essa frase marcou profundamente a sua vida ... e que foi talvez a maior verdade que alguém já dissera a seu respeito, porque na sua vida inteira ele não passou mesmo foi de um "PORQUEIRINHA"...
Diante das situações de decisão ele sempre ficava assim: ... Não sabia se chutava, ou se não chutava ... Se passava, ou se não passava a bola ... E agora, aqui estou eu também dando uma de "PORQUEIRINHA"... Sem saber se conto, ou se não conto, a verdade sobre A ÁRVORE DAS FOLHAS DE OURO... com medo de que possam arrancar todas as sua folhas.
Mas eu resolvi chutar!... Danem-se os ecologistas e os colecionadores... A responsabilidade há de ser de cada um! ... Se cada pessoa só tirar uma folhinha, como eu fiz, para guardá-la dentro de algum livro, isso certamente não destruirá a árvore e se alguém, ao procurá-la, encontrá-la muito desfolhada, que tenha o bom senso de esperar para que cresçam mais folhas nela, porque seria profundamente injusto que eu guardasse esse segredo só para mim...
A ÁRVORE DAS FOLHAS DE OURO existe mesmo! ... De verdade! ... Ela é uma saponácea que fica na Praia dos Frades, quase chegando na Ponta da Imbuca ... No barranco que desce para a praia ... Por cima, as suas folhas são verde-escuro, cor de musgo ... mas por baixo são completamente douradas e brilham feito ouro, quando refletidas ao Sol ... É um achado para todas as crianças e também para todos os adultos que ainda guardam dentro de si a criança que um dia já foram... E eu sou um deles: adulto-criança e "PORQUEIRINHA", como aprendi com Humberto de Campos ...